por Marco Mondaini*

No domingo passado, 5 de maio, recebi no Trilhas da Democracia (TV247/TVT/RBdF) a deputada estadual do PSOL, Dani Portela, para uma entrevista ao vivo sobre o encarceramento em massa, a onda punitivista e as condições do sistema prisional em Pernambuco – nas palavras da própria governadora do estado, Raquel Lyra: “o pior sistema penitenciário do Brasil”.

Como das vezes anteriores em que tive a oportunidade de entrevistá-la no Trilhas, a deputada demonstrou conteúdo qualificado e aguçado senso crítico, sem, em nenhum momento, recorrer à agressividade que vem caracterizando as falas no cenário político nacional desde, pelo menos, a ascensão da extrema-direita bolsonarista.

Para minha surpresa, no dia seguinte, o Brasil 247 publicou matéria na qual Dani Portela é definida por uma “fonte da federação” PSOL-Rede como sendo uma candidata “muito tranquila para João Campos porque PSOL e PSB são, formalmente e na prática, aliados de primeira hora na Alepe”, havendo, “inclusive uma relação pessoal da deputada com o prefeito, com direito a publicações nas redes sociais quando este a visitou após o parto do seu filho, em fevereiro desse ano”.

Na mesma “matéria”, os vereadores do PSOL na Câmara Municipal do Recife, Ivan Moraes e Elaine Pretas Juntas, são definidos como “menos governistas que a maioria”, ainda que tenham “poupado a gestão municipal de críticas mais sistemáticas”.

Por fim, a “matéria” chega ao seu fim com a afirmação de que, segundo “uma fonte da Câmara do Recife”, Dani Portela seria “uma candidatura auxiliar à gestão municipal”.

Pois bem, gostaria de registrar o meu absoluto estranhamento em relação ao que foi afirmado pelas “fontes” da federação e da Câmara do Recife que informaram a matéria acima citada.

Evidentemente, falo em meu nome e mais ninguém. Tenho um ponto de vista, que é a vista de um ponto, que não se pretende imparcial, muito menos isento. Possuo um lado, da defesa intransigente da democracia e dos direitos humanos, na sua versão contra hegemônica, que se localiza hoje, de maneira não exclusiva, em termos político-partidários num espaço ocupado pelo PT e pelo PSOL, e, no campo dos movimentos sociais, pelo MST e pelo MTST.

E, tendo como base tais princípios irrenunciáveis, insurjo-me contra toda e qualquer tentativa de desqualificação de biografias políticas, nas disputas internas ao campo democrático, apelando-se para a acusação de uma candidatura (de oposição) se prestar a ser linha auxiliar de outra candidatura (governista).

No passado, fui professor daquele que viria a ser o vereador Ivan Moraes, que, desde os tempos do Movimento Ocupe Estelita, me dá “aulas práticas” de luta pela democracia e pelos direitos humanos, particularmente de direito humano à comunicação. Tive o prazer de entrevistá-lo algumas vezes no Trilhas e sempre pude ouvir da sua boca posicionamentos críticos às gestões do PSB na cidade do Recife e no estado de Pernambuco.

O mesmo posso afirmar dos posicionamentos da deputada estadual Dani Portela, mulher negra sensível à múltiplas dimensões das violações aos direitos humanos no Brasil, Pernambuco e Recife, que não merecia ter o nome de seu filho citado numa insinuação de proximidade pessoal.

A política não é o Cândido de Voltaire, mas não precisa ser o Inferno de Dante.

*É professor titular do departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), fazendo parte do quadro permanente do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, com pesquisas focadas no dos direitos humanos e do marxismo italiano.

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