Na caracterização da Jaqueira que está no contrato, a pista de bicicross é descrita como um “equipamento radical com pouca aderência. Possibilidade de área de eventos”. Outro “entrave” para novas construções no parque é que há também duas grandes árvores tombadas – o baobá próximo da Rua do Futuro e a jaqueira em frente à igreja –, o que impossibilita novos prédios perto delas. Como todo o parque é uma área de conservação de paisagem, a retirada de quaisquer árvores também é restrita.
Além de “operações gastronômicas”, a Viva Parques informou à Marco Zero que a pista da Jaqueira “cederá espaço para brinquedos infantis, áreas de contemplação e uma quadra poliesportiva”. E que a retirada da pista de bicicross “atende a demanda dos frequentadores e foi fundamentada em pesquisas quantitativas e qualitativas realizadas no parque, em agosto do ano passado”. A Viva Parques não enviou a pesquisa para a MZ.
A Marco Zero entrou em contato também com a Prefeitura do Recife para saber se há participação da prefeitura na tomada de decisões importantes que alterem a estrutura do parque, entre outros questionamentos, mas ainda não obtivemos resposta. A Marco Zero também enviou as perguntas via Lei de Acesso à Informação (LAI). Essa matéria será atualizada quando recebermos alguma resposta.
Confira a nota completa da Viva Parques Parque Santana centralizará prática de BMX
A Viva do Brasil, responsável pela gestão de quatro parques urbanos no Recife, incluindo o da Jaqueira, informa que os praticantes de BMX continuarão contando com uma área específica para a prática do esporte, localizada no Parque Santana, a apenas um quilômetro da atual (Da MZ: a depender da entrada o Parque Santana fica de 1,5km a 2km da Jaqueira). A concessionária irá dialogar com a comunidade BMX para formatar futuras parcerias.
Já a pista da Jaqueira cederá espaço para brinquedos infantis, áreas de contemplação, uma quadra poliesportiva e operações gastronômicas. A decisão atende a demanda dos frequentadores e foi fundamentada em pesquisas quantitativas e qualitativas realizadas no parque, em agosto do ano passado.
A partir desta segunda-feira, 10 de março, a Viva do Brasil assume a gestão dos parques da Jaqueira, Santana, Apipucos e Dona Lindu, com a proposta de melhorar significativamente a experiência das pessoas que frequentam esses espaços públicos. A meta da concessionária é investir em tecnologia, lazer, ampliação das áreas verdes, cultura e esportes, explorando a vocação natural de cada unidade. O acesso da população permanecerá gratuito e os parques continuam propriedade da Prefeitura do Recife e dos recifenses.
As mudanças irão acontecer ao longo dos próximos dois anos e receberão investimentos da ordem de R$ 100 milhões. Agora, na fase de transição, o foco da Viva será na zeladoria e segurança dos parques. A empresa montou uma força-tarefa para fazer os reparos mais urgentes nas quatro unidades, melhorias nos banheiros, limpeza, manutenção de brinquedos e equipamentos, entre outras ações. Na mesma linha, também está investindo na instalação de câmeras de monitoramento e contratação de segurança profissional.
Comerciantes da Jaqueira ainda sem informações
Era por volta de meio-dia da terça-feira passada (25) quando funcionários da Viva distribuíram um questionário para os comerciantes que ficam nos quiosques em frente ao parque, na rua do Futuro. Foi o primeiro contato da concessionária com os comerciantes, que ainda seguem sem respostas para a maioria de suas perguntas.
“Disseram que queriam ouvir a gente sobre a reforma dos quiosques. Que não vão cobrar nada da gente nesses dois primeiros anos, mas que, depois, vão ver como vai ficar. Não sabemos quanto vai ser, nem se a gente vai conseguir continuar aqui”, disse um comerciante, que trabalha no local há mais de 20 anos e não quis se identificar. “A prefeitura abandonou o parque nos últimos meses. Não teve nem um pisca-pisca de decoração no Natal, enquanto o parque da Tamarineira estava abarrotado de decoração. O movimento caiu muito”, reclamou. Pelo contrato, a empresa deverá readequar todos os quiosques.
Um funcionário do parque afirmou, em reserva, que no ano passado a equipe de manutenção da Jaqueira teve uma redução significativa, logo após o lançamento do edital de concessão. O parque, que sempre foi muito bem cuidado pela prefeitura, foi deixado de lado. Está precisando de capinação e de pintura na pista, entre muitos outros reparos. Os furtos aumentaram para uma média de sete bicicletas levadas do parque por semana, disse outro funcionário. Havia, até há pouco tempo, apenas dois seguranças por turno. Recentemente, depois que um juiz teve sua bicicleta levada, a prefeitura voltou a colocar guardas municipais dentro do parque.
Dono de uma das poucas bancas de jornais que resistem na zona norte do Recife, Geraldo Rodrigues também não tem nenhuma informação sobre o futuro da sua banca sob a gestão da Viva Parques. “Não me entregaram nenhum questionário”, disse ele, que tem a banca Boa Forma há 27 anos. “Tenho contrato sem validade com a Prefeitura do Recife (ele não quis informar o valor do aluguel) e a conta de energia vem no meu CPF”, diz.
Para o parque, Geraldo espera que possa haver novas formas de atrair mais público. “Porque com a inauguração de vários parques por perto, caiu muito o movimento comercial, mas quero permanecer aqui na calçada. Não faz sentido, por exemplo, que essa banca vá para dentro do parque. O prefeito Roberto Magalhães baixou um decreto e mandou recuar o gradil para que o comércio ficasse fora do parque. Tem um decreto municipal sobre isso e acho que deve ser mantido”, diz.
Os ambulantes também estão apreensivos. Hoje, são 27 pessoas cadastradas que podem atuar dentro do parque, vendendo pipoca, água de coco, algodão doce. Até agora, nenhuma informação foi passada para eles sobre a nova gestão.
Há 33 anos Henrique Francisco vende sorvete no parque, principalmente durante os fins de semana. Saí de casa, no centro do Recife, e vai empurrando o carrinho até a Jaqueira. “Eu estou de mãos atadas, porque não sei como é o sistema dessa empresa, como é que vai ficar a situação da gente. Hoje em dia, quem manda é quem tem dinheiro. A prefeitura fez um cadastro pra gente ganhar o pão e não pagamos nada para ficar aqui dentro”, diz. “Se tirarem a gente de uma hora pra outra, sem nada, a gente vai ficar sem o necessário para viver”, afirma Henrique, que tira no máximo R$ 200 por dia, em um bom fim de semana.
Já Antônio Luiz da Silva vende algodão doce no parque há 30 anos. “Se for para a gente ter uma renda melhor, ganhar mais, beleza. Mas a gente sabe que muitas oportunidades são para quem já tem dinheiro, como para abrir uma loja aqui, abrir uma lanchonete. E a gente, que está na Jaqueira há 30, 40 anos, lutando desde o começo?”, questiona. “Quando tem algum evento, o prefeito João Campos bota o tênis e aparece aqui. A gente parou ele um dia e ele disse ‘não vão mexer com vocês’, mas ele nunca deu atenção pra gente. Só falou isso. Estão falando que nada muda por dois anos, mas, e depois, como vai ficar?”, questiona.
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