Com a aproximação do período de campanha para as Eleições 2024, diversas figuras políticas já se mobilizam para apresentar as suas pré-candidaturas e se articulam em busca de alianças. Mesmo que as convenções partidárias e o registro das candidaturas só ocorram entre julho e agosto, de acordo com o calendário divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral, é de se esperar que aqueles e aquelas que possuem uma trajetória marcante na política já apresentem à sociedade os cargos que pretendem disputar.

Quando esta movimentação não ocorre, as dúvidas sobre a participação do candidato ou candidata nas eleições começam a surgir. É isto que acontece atualmente com a candidata Robeyoncé Lima (PSOL). Eleita pela primeira vez em 2018, quando integrava o mandato coletivo Juntas, a advogada se tornou a primeira travesti negra a ocupar a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), ao receber mais de 39 mil votos.

Na última eleição, em 2022, Robeyoncé lançou sua candidatura como deputada federal e foi a segunda mais votada da federação PSOL-Rede, recebendo 80,7 mil votos. Mesmo sendo a 21ª colocada no ranking das 25 vagas reservadas para Pernambuco na Câmara dos Deputados, a advogada não foi eleita devido ao sistema de proporcionalidade, que leva em consideração os coeficientes eleitoral e partidário. A federação PSOL-Rede recebeu a quantidade de votos válidos suficientes para eleger apenas um representante para a Câmara dos Deputados, com isso, a vaga ficou com o deputado Túlio Gadêlha, que recebeu 134,3 mil votos.

Com duas campanhas de votações expressivas, Robeyoncé se tornou um nome forte para o PSOL. Porém, a advogada deve ficar de fora das Eleições municipais deste ano. Isso é o que indica a deputada estadual e pré-candidata à Prefeitura do Recife pelo PSOL, Dani Portela.

“Robeyoncé ainda vai publicizar a sua decisão, mas o fato dela não concorrer, de não ter o rosto dela em uma urna, não significa que ela está fora da política. Ela segue firme na luta com a gente, junto com o partido compondo a campanha, ela foi convidada a compor a campanha majoritária”, declarou Dani Portela.

Questionada pela reportagem sobre a sua decisão de não disputar as eleições, Robeyoncé afirmou que se pronunciará em breve, “assim que possível”.Recentemente, a advogada fez uma postagem nas redes sociais para defender a pré-candidatura de Dani Portela como prefeita do Recife.

O futuro do PSOL no Recife

Em 2016 o PSOL elegeu o primeiro vereador no Recife, o jornalista Ivan Moraes. Na ocasião, o então candidato recebeu 5.203 votos. Em 2020, o partido teve a maior votação para o cargo de vereança com a eleição de Dani Portela, que recebeu 14.114 votos. Neste mesmo ano, Ivan foi reeleito com 6.319 votos.

Em 2018, com a candidatura de Dani Portela para governadora de Pernambuco, o partido ficou em segundo lugar na disputa e recebeu 188 mil votos. Neste mesmo ano, o PSOL ocupou a Alepe com o mandato coletivo Juntas, que recebeu 39.175 votos. Em 2022, foi a vez de Dani Portela se tornar a representante do PSOL na Alepe, com 38 mil votos. Neste mesmo ano, Robeyoncé conquistou mais de 80 mil votos em sua primeira candidatura solo como deputada federal.

Diante dos números expressivos de votação, Ivan Moraes, Dani Portela e Robeyoncé Lima são nomes importantes para possibilitar que o PSOL ocupe um maior número de cargos políticos, sobretudo nos cargos de sistema proporcional, que é utilizado nas eleições para câmaras municipais, assembleias legislativas e Câmara dos Deputados.

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O sistema proporcional tem como objetivo fortalecer os partidos políticos. O sistema funciona por meio de um cálculo que considera o quociente eleitoral e quociente partidário. Para se eleger, o candidato (a) deve cumprir dois requisitos: 1 –  ter votação equivalente a pelo menos 10% do quociente eleitoral; e 2-  estar dentro das vagas a que o seu partido ou federação terá direito, que é determinado pelo quociente partidário. Para fazer o cálculo de quociente partidário, as federações de partidos são consideradas como um único partido político. Sendo assim, quanto mais votos o partido receber, maior será o seu quociente partidário e mais vagas ele terá.

No entanto, para as eleições municipais de 2024, o partido tem um desafio: nenhum dos três candidatos deve disputar o cargo de vereador/a e, com isso, o PSOL pode perder votos, consequentemente seu quociente partidário diminuirá.Além disso, a partir de 2025, a câmara municipal do Recife terá dois vereadores a menos, e isso acontece porque a Lei Orgânica do Município do Recife infere que quando a população da cidade for menor do que 1.500.000 habitantes, a representação no Legislativo deve ser de até 37 parlamentares, e de acordo com o Censo 2022, a população do Recife caiu de 1.537.704 para 1.488.920.

Cumprindo sua promessa de campanha, Ivan Moraes já afirmou diversas vezes que não será candidato e explica o motivo: “eu tenho a tarefa de mostrar que dá para fazer política de forma diferente, por isso, eu sempre afirmei que não concorreria por mais de dois mandatos consecutivos de um mesmo cargo. Tentei ser candidato a prefeito do Recife, mas o partido entendeu que não era o melhor momento e eu respeito a decisão, então vou cumprir meu segundo mandato como vereador e não tentarei me eleger novamente”.

“Isso não significa que eu estou abandonando a política, pelo contrário, continuarei trabalhando fortemente, mas dessa vez quero poder ajudar a eleger outras pessoas que também merecem ocupar esse espaço. E para isso apoiarei a campanha de duas companheiras que trabalham no meu gabinete, vamos tirar o homem da Câmara e colocar duas mulheres”, completou o vereador ao falar sobre as possíveis candidaturas de sua assessora parlamentar, Nise Santos, e da ex-codeputada da Juntas, Carol Vergolino.

Já a deputada estadual Dani Portela teve a sua pré-candidatura à Prefeitura do Recife lançada no dia 15 de maio. Na ocasião, a federação PSOL-Rede lançou também a pré-candidatura de Alice Gabino a vice-prefeita.

Em entrevista à Marco Zero, a candidata falou sobre o desafio de enfrentar João Campos (PSB), favorito à reeleição nas pesquisas de intenção de voto.

“A eleição vai revelar muitas coisas e é muito difícil que alguém consiga chegar à eleição em um percentual tão bem colocado quanto o dele [João Campos]. Então nossa estratégia é realizar uma campanha voltada para o Recife real, que é o Recife que tem o Centro abandonado, degradado, com prédios que poderiam servir de moradia popular, uma capital com altos índices de desemprego, feminicídio e déficit habitacional. Para mostrar que esse Recife ideal só existe nas redes sociais do prefeito”, disse Dani Portela.

Após revelar a decisão de Robeyoncé em não disputar o cargo de vereadora, Dani Portela afirmou que não vislumbra nenhuma candidatura que possa atuar como “puxadora de votos” para o coeficiente partidário do PSOL nesta eleição, mas declarou que isso não deve influenciar na campanha eleitoral do partido. “Nós temos sim um desafio grande, mas lá atrás nós também não imaginávamos eleger a vereadora mais votada do Recife. Nós não estamos disputando apenas votos, estamos disputando mentes e corações e entendemos que essa campanha é importante não só para as eleições deste ano”, disse a pré-candidata.

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Direitos Humanos