Luan Batista não é apenas um fotógrafo. Ele é um contador de histórias visuais, cuja lente é testemunha das complexidades das comunidades periféricas de São Paulo. Criado no bairro de Guaianases, no extremo leste da capital, a jornada dele na fotografia começou nas ruas que o cercavam, onde cada esquina e cada rosto contavam uma história única.

“Meu bairro tem uma particularidade que adoro”, diz Luan. “Ele é uma quebrada que divide várias outras, de um lado o morro do Jardim Robru (onde o sol nasce) do outro os prédios coloridos da Cohab (onde o sol se põe).”

Essa geografia de Guaianases, onde diferentes comunidades se misturam, ofereceu a Luan uma fonte de inspiração visual. “Cada bairro tem características próprias e todas se misturam no meu. Já que aqui é rico em tantas coisas, por que eu deveria fazer uma coisa só?”, ressalta.

Luan retrata periferias e crítica ao consumo @Carlos Pires/ Agência Mural

Atualmente, o fotógrafo está participando de duas exposições. Uma delas é no Museu das Favelas, onde algumas de suas obras integram a EXPOSIÇÃO FAVELA-RAIZ, dentro da instalação “Visão Periférica” do Coletivo Coletores e Topográficas.

Além disso, há uma pequena participação dele no projeto “Selva Cidade“, onde é possível adquirir alguns prints do artista, localizados no terceiro andar.

Nas exposições, Luan mostra o trabalho que traz um pouco do que aprendeu com Guaianases. Ao crescer na região, Luan absorveu não apenas as cores vibrantes, mas também uma compreensão da realidade social e cultural que o cercava.

Para ele, a fotografia não é apenas uma forma de capturar a beleza do mundo, mas também uma ferramenta poderosa para amplificar as vozes de comunidades marginalizadas.

‘Crescer na periferia me fez visualizar as coisas de uma forma diferente. Todo o contexto social e cultural me fez entender que não adianta a fotografia ser somente bonita se ela não transmite algo’

Luan Batista, fotógrafo

As influências de Luan são diversas e vão desde a pintura barroca até a direção de fotografia de anime, passando pelo streetwear do hip-hop.

O retrato do Felix Pimenta está em exposição no Museu das Favelas, em São Paulo @Luan Batista/ Divulgação

As coleções de revistas de moda servem como fonte de pesquisa, assim como a cena ballroom, que o inspira profundamente. Nas artes visuais, ele encontra inspiração nas pinturas, que continuam sendo uma fonte de estudo constante.

Ele ainda cita a importância da semiótica, área que estuda os símbolos, signos e sinais que fazem algum significado humano. O fotógrafo cita que acrescentou uma nova camada de profundidade e significado às imagens.

Obra com imagem de Oxum também está na exposição do Museu das Favelas @Luan Batista/ Divulgação

O projeto “Perecível“, por exemplo, mergulha na complexa relação entre o corpo e o consumo, utilizando o plástico filme como uma metáfora visual da efemeridade e da fragilidade da condição humana. “Minha ideia era criar um ensaio crítico do corpo com objeto de consumo”, explica.

Ele mergulhou em um intenso processo de pesquisa e experimentação, buscando formas de transmitir sua mensagem por meio das lentes da câmera. Uma das características distintivas do projeto é o uso do plástico filme como elemento visual. “Enrolar corpos nus em plástico filme como produtos de supermercado.”

Autorretrato Projeto Perecível que os corpos são enrolados no plástico @Luan Batista/ Divulgação

A ideia era criar uma atmosfera que convidasse o espectador a refletir sobre a relação complexa entre o corpo humano e a cultura do consumo.

Ao longo dos anos, “Perecível” passou por várias interações e desenvolvimentos. Luan levou o projeto para as ruas, exibindo lambe lambes de 1,5 metro de altura pela cidade. Ele também explorou novas narrativas e abordagens, projetando as fotos em espaços urbanos como parte de uma experiência imersiva.

Embora o projeto “Perecível” esteja temporariamente em pausa, Luan sonha em publicar um livro oficial do projeto.

Intervenção na rua Projeto Perecível @Luan Batista/ Divulgação

Explorando Novos Horizontes

Luan está mergulhado em uma fase de expansão, tanto profissional quanto artisticamente. “Estou em um momento focado na produtora que tenho desde 2018 com dois amigos, a ideia é criar um polo de audiovisual na quebrada, uma ideia que tínhamos há muito tempo e que está começando a se concretizar.”

Metrô Versus eu, obra que pode ser adquirida no projeto Seiva e Cidade @Luan Batista/ Divulgação

Além disso, está concentrado em criar um estúdio, que seja um espaço inspirador para colaboração criativa. Em termos artísticos, Luan planeja duas novas séries voltadas para a fotografia analógica. Ele também tem planos de estabelecer um laboratório em casa para aprimorar as técnicas e começar a compartilhar o conhecimento por meio do ensino.

Quando questionado sobre conselhos para fotógrafos emergentes, Luan afirma que é fundamental buscar uma variedade de experiências para o desenvolvimento da identidade artística e profissional. “Experimentem”, aconselha.

Agência Mural

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