Segundo a Uerj, apenas 18 pesquisadores brasileiros compõem o novo ciclo do IPCC, e a universidade estadual é a única instituição brasileira a participar com duas mulheres, evidenciando tanto a excelência científica da universidade quanto a importância da presença feminina em espaços estratégicos de formulação de políticas globais baseadas em evidências científicas.
O relatório do IPCC é uma das principais referências internacionais sobre a crise climática, sendo referendado por todos os países signatários da ONU e utilizado para orientar decisões governamentais, acordos internacionais e estratégias de adaptação e mitigação. O documento recomenda políticas públicas e ações, mas não obriga as nações a adotar as medidas nele contidas.
A cada ciclo de avaliação, os especialistas selecionados analisam os conhecimentos científicos mais recentes sobre temas como os indicadores físicos das mudanças climáticas, seus impactos e riscos associados, além das possibilidades de respostas por meio de adaptação e mitigação.
A primeira reunião dos autores-líderes e coordenadores dos três grupos de trabalho do 7º Ciclo ocorreu na primeira semana de dezembro, em Paris.
Os três grupos de trabalho do IPCC abordam dimensões centrais das mudanças climáticas. O Grupo de Trabalho 1 dedica-se às bases físicas do clima; o Grupo 2 analisa impactos, vulnerabilidades e adaptação; e o Grupo de Trabalho 3 trata da mitigação de gases de efeito estufa. O 7º Ciclo de Avaliação será concluído em 2028 com o lançamento do Relatório Síntese.
Por ser signatário da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), o Brasil pode indicar cientistas para compor o painel, cabendo ao IPCC a seleção com base na área de atuação, especialidades e produção científica. As professoras Letícia Cotrim e Luciana Prado, ambas da Faculdade de Oceanografia da Uerj, foram escolhidas, respectivamente, como autora-coordenadora e autora-líder do Grupo de Trabalho 1.
Letícia Cotrim, do Departamento de Oceanografia Química, já atuou como autora-líder no 6º Ciclo de Avaliação (2018-2021). Ela está participando como um dos três autores coordenadores do capítulo 4: avanços no entendimento de processos no sistema terrestre e mudanças associadas ao clima.
Dentro do escopo delineado pelo IPCC para este capítulo, entram aspectos do funcionamento de ecossistemas terrestres, marinhos e costeiros, e suas interações com a atmosfera e a criosfera (polos e regiões de alta montanha com geleiras), explica a professora.
Para Luciana Prado, do Departamento de Oceanografia Física e Meteorologia, ser selecionada para integrar o IPCC representa um marco importante na carreira já que houve muitas inscrições no mundo inteiro para participar do 7º Ciclo. A professa explica que vai participar do Capítulo 2, que vai descrever as mudanças climáticas observadas nas últimas décadas do ponto de vista global, uma espécie de diagnóstico global.
A minha parte está relacionada a compilar os estudos que foram feitos para climas passados, é a paleoclimatologia. Olhando para essas situações, a gente consegue entender melhor como o sistema climático funciona para fazer melhores projeções futuras, completa Luciana.
Grupo de Trabalho 1
Os temas analisados pelo Grupo de Trabalho 1 incluem gases de efeito estufa e aerossóis na atmosfera; mudanças de temperatura do ar, da terra e dos oceanos; ciclo hidrológico e alterações nos padrões de precipitação; eventos climáticos extremos; geleiras e calotas polares; oceanos e elevação do nível do mar; biogeoquímica e o ciclo do carbono; além da sensibilidade climática.
A avaliação científica combina observações, dados de paleoclima, estudos de processos, teoria e modelagem, oferecendo uma visão abrangente do sistema climático, de sua evolução e das causas das mudanças observadas. O processo de elaboração dos relatórios prevê ainda rodadas de revisão por cientistas e governos signatários, antes da aprovação do sumário final, que orienta compromissos internacionais.
O próximo encontro dos autores do IPCC está previsto para abril de 2026, em Santiago, no Chile.
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