Moradora de Guarulhos, na Grande São Paulo, a engenheira de alimentos Sarah Albuquerque, 22, pega diariamente a linha 342 (Jardim Maria Dirce) às 5h da manhã para trabalhar no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. O ônibus lota logo no início do trajeto. É desconfortável tanto para quem está sentado quanto para quem vai em pé, conta.
O tempo total até o trabalho pode ultrapassar duas horas, e isso sem contar o trecho de metrô e ônibus na capital que, segundo ela, é mais barato e eficiente.
O estudante de fisioterapia Matheus Correia, 22, tem uma rotina parecida. Ele sai de casa às 5h55 e enfrenta o transporte coletivo sempre cheio da linha 252 (Jardim Cumbica). Já vi idosos viajando em pé o trajeto todo, relata.
Ônibus da Linha 342 sem passageiros estacionado no ponto final @Gabrielly Souza/Agência Mural
Os dois passageiros, assim como boa parte da população de Guarulhos, dependem dessas linhas intermunicipais para acessar as linhas de metrô e trem em São Paulo. Apesar dos aumentos constantes nas tarifas, eles relatam que os ônibus são, em sua maioria, velhos, sem ar-condicionado e insuficientes para a quantidade de passageiros.
A linha 342 leva cerca de 1h50 até a estação Armênia e cobra R$ 8,95. Já a linha 252 (Jardim Cumbica) chega a R$ 8,05 e demora, em média, 1h45 até o metrô Carrão, na zona leste da capital.
Quem mora longe da Rodovia Presidente Dutra encontram ainda mais dificuldades, pois as linhas que circulam dentro dos bairros são poucas e aumentam significativamente o tempo de deslocamento.
Passageiros tentam se organizar em revezamentos para aliviar o cansaço. Além do tempo, o custo pesa: quem não tem direito à meia-entrada e vale transporte pode gastar até R$ 16 por dia só com passagens de ônibus.
O transporte coletivo da linha 252 dá para ver a diferença, o primeiro é antigo e o segundo micro-ônibus de frota nova @Gabrielly Souza/Agência Mural
Uma alternativa nem tão efetiva assim
Em 2018, foi inaugurada a Linha-13 Jade da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que sai da capital e tem duas estações em Guarulhos, no Cecap e no Aeroporto.
Apesar disso, ela ainda não atende de forma satisfatória grande parte da população de Guarulhos. Quem mora no Pimentas, por exemplo, precisa pegar dois ônibus, do Terminal Pimentas até o Terminal Cecap.
Mesmo com desafios diários no transporte, o trem é fundamental na rotina de Rayna Torres, 19, vendedora que mora no bairro da Bela Vista, e trabalha na Barra Funda, na zona oeste de São Paulo. O trajeto leva, em média, de 45 a 50 minutos.
Linha 13 Jade da CPTM em horário de pico @Gabrielly Souza/Agência Mural
Ela costuma usar o Expresso Aeroporto, que exige apenas uma condução até a estação, porém, passa apenas a cada uma hora. No entanto, nos horários de pico, o trem chega com até 20 minutos de antecedência e, mesmo assim, permanece parado antes da partida.
Quando precisa de mais agilidade, Rayna opta por um trajeto alternativo: vai até Engenheiro Goulart, segue pela Linha 12-Safira até o Brás e faz baldeação para a Linha 7-Rubi. Essa opção é melhor quando estou com pressa, porque o expresso às vezes demora para sair.
Ela relata que os trens costumam circular lotados, especialmente por causa dos passageiros vindos do aeroporto, que carregam malas volumosas. A junção dos moradores com os turistas torna o trem apertado na maior parte do tempo.
A assistente de comércio exterior, Raynara Dutra, 23, também moradora do bairro Bela Vista, trabalha no Jardim Paulista, região central de São Paulo. O trajeto dela leva em média 1h10.
O percurso começa na estação Cecap, onde embarca no Expresso Aeroporto, desembarca na estação da Luz, depois faz baldeação para a linha amarela do metrô, segue até a estação Paulista e, de lá, embarca na linha verde até a estação Trianon-Masp, de onde ainda caminha até o trabalho.
Raynara aponta que não é só a superlotação dos trens da linha 13-Jade que atrapalha a rotina dos passageiros
Os trens da linha Jade estão sempre lotados. Muitas vezes o ar-condicionado não funciona, nem nos dias quentes, quando seria essencial, nem nos dias frios, quando ainda assim seria importante para a circulação do ar.
Luz no fim do túnel
Outro ponto que gera frustração é a demora na expansão do metrô até Guarulhos. Em março deste ano, o Metrô abriu a licitação para contratar as obras da futura Linha 19-Celeste, que ligará São Paulo a Guarulhos. No entanto, a licitação foi adiada para setembro, segundo publicação no site do Metrô, e ainda não há data definida para o início das obras.
Além disso, em julho, o Metrô assinou o contrato de construção com o Consórcio Crasa-Ghella-Estação Ponte Grande para as obras da extensão da Linha 2-Verde, no trecho entre Penha e Guarulhos. A previsão é de que a obra seja concluída até 2030.
Outro lado
A Artesp informou que 19 linhas intermunicipais operadas pelo Consórcio Internorte atendem o bairro dos Pimentas, com 1.005 viagens diárias. Desde janeiro de 2023, 74 novos ônibus foram incorporados à frota, todos com ar-condicionado, acessibilidade, entradas USB e motores Euro VI.
No entanto, nenhum desses veículos atende a linha 342, e a linha 252 conta com apenas um ônibus novo.
Sobre o atraso, a operadora atribui os atrasos ao trânsito intenso e aos congestionamentos nas imediações da Via Dutra.
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