Um notebook, um fone de ouvido e um programa instalado no computador. Foi assim que Gregory Brandão, 25, começou a criar música, com 18 anos. Nessa fase, o jovem passou de um frequentador de clubes e bailes para se envolver com a arte. Os amigos de rolê até tinham vontade de entrar no meio, mas foram para outros caminhos.
“É muito amor pela música, mano”, conta ele, que, desde criança já curtia muito rock e rap, e queria ser guitarrista, mas foi o PC que se tornou o verdadeiro instrumento musical, por conta da facilidade de produzir em casa com programas gratuitos.
“Em 2016, vi um gringo fazendo trap com um remix de funk, aí eu baixei o programa em 2017, e desisti. Em 2018, baixei de novo e comecei a brisar”, conta, do estúdio na UNEAfro de Poá, na Grande São Paulo, onde gravou parte do último álbum, o “Da ZL Mixtape”. “Quando eu descobri que dava para fazer tudo com o computador, pensei ‘por que não me contaram antes?’”, brinca.
Greg da ZL no estúdio da Uneafro em Poá, onde gravou parte do seu último EP, o Da ZL Mixtape @Léu Britto/Agência Mural
Greg usa o “FL Studio”, principal software de montagem e edição de música usado por produtores de funk e rap, devido à praticidade e facilidade de montagem – sem deixar de lado a notória pesquisa e habilidade de seleção dos sons do usuário.
Ele começou no meio da música como produtor de trap até criar o vulgo Greg da ZL, em 2022.
De lá pra cá, ele coleciona dois EPs solos e uma mixtape colaborativa com a MC de funk Saintfaela, do Jardim Cláudia, na zona oeste. Além dos álbuns, possui também dezenas de singles, participação fixa em uma rádio alemã, trilha sonora em um fashion film e convites para tocar em bailes fora do Estado.
Hoje, ele divide a rotina entre as produções musicais, discotecagem, participações em rádios e eventos e os estudos de Moda e Têxtil na USP (Universidade de São Paulo).
O Da ZL, lançado em 17 de janeiro, com 10 faixas, explora as “barreiras entre o funk, house e techno”, vertentes da música eletrônica. As faixas são produzidas inteiramente por ele, com participações das vozes dos MCs Cunha, de Guaianases, Mc Alekinho da ZO, da zona oeste de São Paulo e MC Maikinho, da zona sul do Rio de Janeiro.
“Senti que o funk estava usando sempre os mesmos timbres, meio programado, aí eu pensei em ‘brisar’ um pouco”, explica. Um ponto alto dessa ‘brisa’ é na manipulação das vozes dos MCs e batidas ao longo do disco, com um início de aquecimento mais ‘nostálgico’ até os momentos de ritmada e experimentação que intensificam a construção sonora.
No Spotify, estão disponíveis 5 faixas, enquanto no Youtube, Soundcloud e Bandcamp, o álbum completo com 10.
Morador de Poá, o artista é convidado para tocar em bailes e festas da região @Léu Britto/Agência Mural
A estratégia foi uma decisão prática de restrição de tempo, questões de licenciamento e uma forma de atingir diferentes públicos. “Eu poderia liberar tudo no Spotify, mas tinha que ter pedido liberação para lançar nas plataformas”. A liberação é sobre o uso das acapellas dos MCs de funk, presentes nas faixas bônus, que ele ainda não pôde buscar o licenciamento.
As 10 produções já tinham sido gravadas no ano passado, mas aos poucos foram finalizadas e preparadas para o lançamento. “
‘A arte leva um tempo e eu também não me pressiono para criar e lançar música toda hora, até porque pra fazer algo de qualidade, tenho que dar uma atenção em todo o processo’
Greg da ZL
Para monetizar as produções, Greg parte de diferentes tipos de canais, como o Bandcamp, o próprio Spotify, além dos shows, bailes e os registos das faixas no ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) – neste último, o músico recebe os direitos autorais por toda execução pública de suas faixas em streamings.
No Bandcamp, Greg conseguiu o primeiro, até agora, trampo internacional. Um DJ de Amsterdam, na Alemanha, comprou uma faixa dele e o convidou para tocar na Microwave.live, uma rádio virtual independente de Bruxelas, na Bélgica, especializada em música eletrônica.
O DJ Greg trabalha também como produtor musical e tem participação fixa em uma rádio alemã @Léu Britto/Agência Mural
As sessões de Greg acontecem toda primeira quarta-feira do mês, quando ele envia um set de uma a duas horas para a plataforma e, posteriormente, posta no Soundcloud. “São conexões, né, mano? Lançar o trampo em vários lugares”.
No currículo, Greg também co-assina com Dj Lorranny a trilha sonora do filme de moda do editorial Espetáculo do Submundo, da Mile Lab, marca de roupas de Milena Nascimento, do Grajaú, lançado em julho de 2024.