Se tem uma coisa que criança gosta é de brincar e estar junto de outras crianças. Foi esse o retrato do mutirão de graffiti que aconteceu no Córrego do Sargento, comunidade do bairro de Linha do Tiro, na zona norte do Recife. Com pincéis, tintas e sprays nas mãos, meninos e meninas ajudaram a colorir as ruas da comunidade. Foram aproximadamente 50 pessoas, entre moradores e voluntários, que não deixaram a chuva que caiu no final de semana passado atrapalhar a ação.

Mas o dia não foi marcado apenas pelas pinturas nas paredes. Aconteceram duas oficinas, uma de pintura e outra de break dance, além do Cine RSS, com a exibição de dois filmes produzidos por cineastas recifenses, oferecidos pelos integrantes do coletivo Rede Resistência Solidária (RSS).

Laisa Costa, de 12 anos, é moradora da rua Frei Jorge, que dá acesso ao Córrego e foi convidada pelas amigas para participar, entre as atividades, ela participou da competição de quem “estica” mais tinta, onde as crianças precisam pintar o maior espaço possível com o material disponibilizado. “A gente aprendeu sobre a arte e aprendeu sobre os nossos ancestrais. Eu já ouvi falar no hip hop, que às vezes o meu pai escutava, mas eu não seguia essas músicas. Eu gosto muito de arte desde pequena, então, eu aprendi que a arte é importante”, afirma a menina.

Diferente de Laisa, Pietra de Lima, de nove anos, é moradora do Córrego e participa do Projeto Social Riselda Amorim, um dos quase 20 projetos integrantes do Coletivo Sargento Perifa, atuante na comunidade. Para a pequena, ação serviu para aproveitar o tempo com os colegas. “Foi muito bom. Foi uma alegria, porque se não tivesse isso eu ia ficar na minha casa e não ia poder brincar (na rua)“, relata.

Este mutirão acontece há quase 20 anos pela RSS, são grafiteiros de diferentes bairros do Recife e Região Metropolitana, unidos de forma independente para levar a arte aos territórios periféricos. De acordo com o artista Galo de Souza, de 45 anos, estiveram na ação pelo menos dez artistas, mas, ao longo dos anos, já houve mutirão com 170 artistas participando.

“O objetivo do mutirão é ter essa troca mesmo, é fortalecer o grupo da comunidade que está puxando o mutirão. Quem faz é a comunidade e a gente faz a parte da cooperação, quem tá fazendo hoje é o Sargento Perifa e a gente tá somando junto como uma ciranda, de mãos dadas”, explica Galo, grafiteiro há quase 30 anos e um dos criadores do evento.

A ideia é que as ações sejam voluntárias e coletivas, contando apenas com a colaboração entre artistas e comunidade, que, geralmente, entra com alimentação e suporte, já os artistas entram com as artes, os materiais e o conhecimento. “É uma forma autônoma de fazer uma ação. A comunidade consegue um pequeno apoio, a gente vai conseguindo tintas por doações e vai fazendo assim, a ideia é que não dependa de projeto, de governo, de nada. Você faz uma ação independente e uma ação de caridade também, você doa um dia do mês da sua vida para estar pintando a comunidade, pintando com as crianças”, completa.

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O coletivo Sargento Perifa é um coletivo de comunicação popular localizado no Córrego do Sargento, no bairro da Linha do Tiro. Com uma equipe majoritariamente jovem, o coletivo tem em torno de 70 integrantes, distribuídos em 20 projetos, que atuam para garantir a justiça social e a melhoria da comunidade através da saúde, esportes, educação e comunicação.

A ação acontece sempre no último domingo do mês em uma comunidade diferente. Trabalhos como esses são importantes para levar, através da arte, o embelezamento das ruas das periferias e para fortalecer o pertencimento dos moradores desses territórios. A ideia é que os artistas retornem ao Córrego do Sargento para continuar as pinturas nos locais previamente marcados, tendo em vista que a ação ficou limitada por causa da chuva.

“É interessante a gente resistir mesmo com o tempo nublado e chuvoso, resistir com cor e transmitir a mensagem de coragem para quem tem vontade de começar a pintar e não tem oportunidade. É especial”, afirma o artista Carlos Net, de 36 anos, que, assim como Galo, começou adolescente na grafitagem e hoje passa seus conhecimentos da arte para outras pessoas, principalmente crianças e adolescentes.

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