Em setembro de 2023, A Agência Mural publicou uma reportagem que destacava as dificuldades encontradas pelos moradores do Jardim São Luís, na zona sul de São Paulo, por conta de obras pluviais em duas importantes avenidas do bairro: Geraldo Fraga de Oliveira e Maria Coelho de Aguiar.

Ainda no ano passado, as obras na Geraldo Fraga foram entregues, mas a novela das reformas ganhou novos capítulos com o adiamento da entrega das ações na Avenida Maria Coelho para agosto deste ano, totalizando um atraso de sete meses, além do aumento nos problemas de mobilidade.

A estudante de odontologia Maria Eduarda Olanda, 19, destaca que, para chegar pontualmente no trabalho, precisa sair cerca de uma hora antes do que seria necessário para o deslocamento.

“Antes, eu levava quarenta minutos pra chegar no trabalho, hoje levo uma hora e vinte, uma hora e meia. Com o avanço das construções na Maria Coelho, a avenida só conta com apenas uma mão pra cada lado, aumentando o trânsito“.

Moradores vem levando mais que o dobro do tempo para chegar ao trabalho ou ir estudar @Daniel Santana/ Agência Mural

No final de fevereiro, já fora do prazo inicial de entrega, novos “shafts” (poços utilizados para as equipes de trabalho e o maquinário terem acesso ao subsolo) foram abertos em outros pontos da avenida. A situação causou ainda mais receio da população que constatou atraso..

Em resposta aos questionamentos da Agência Mural, a Siurb (Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras) informou que o atraso foi gerado por conta da quantidade de rochas encontradas durante as escavações, e da emissão de licenças necessárias junto a órgãos como DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), CTEEP (Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista.) e Sabesp.

Com a prorrogação das reformas, outros problemas são observados, como buracos no asfalto da via. Em alguns trechos, próximos a paradas de ônibus, o solo vem afundando devido ao peso dos veículos que passam apenas por uma faixa.

‘Tem muitos buracos em todo lugar. Você desvia de um e acaba caindo em outro. A pista ali tá muito prejudicada por conta das obras

Maria Eduarda, estudante de odontologia

Com o fluxo concentrado em apenas uma faixa, buracos e afundamentos vem surgindo com frequência em alguns pontos da avenida @Daniel Santana/ Agência Mural

Trindade Cruz, 22, já trabalhou com serviços de entrega para uma empresa de e-commerce, onde era necessário trafegar pela avenida com frequência. O estudante de jornalismo conta que os buracos não somente pioram a situação da via, mas também colaboram com a demora no deslocamento.

“O asfalto irregular atrapalha muito em relação ao trânsito, quando a gente trabalha com entregas. Acredito que até o final vai piorar e muito a situação da população que precisa ir aos seus compromissos diariamente”, reflete.

O tão citado aumento no trânsito da avenida é um percalço encontrado desde o início. Trindade enfatiza que a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) está em uma posição complicada por conta da dificuldade em controlar o fluxo de veículos na região, mas não isenta a SPTrans, já que a demora nas linhas passou a ser algo rotineiro no bairro.

Ele menciona que a gestora de transporte público da capital não alertou possíveis desvios ou atrasos nas linhas ou até a desativação de algumas paradas de ônibus.

‘Devido às obras alguns ônibus mudaram a rota, alguns pontos foram desativados e a SPTrans informava de qualquer jeito, não atendendo às dificuldades que a população está tendo’

Trindade Cruz, estudante de jornalismo

Em nota, a SPTrans afirmou que não houve alteração no percurso dos ônibus e que as linhas estão trafegando normalmente pelo local em reforma. Quando necessário, é acionado o sistema “pare e siga” (onde o tráfego flui em apenas um dos sentidos).

A empresa também afirmou que “os pontos de parada estão sendo transferidos temporariamente de acordo com o progresso da obra”, e, no sentido centro da Av. Maria Coelho Aguiar, um ponto móvel foi instalado na altura do número 857 para atender aos pontos desativados nos números 285 e 408. No sentido bairro, o ponto de parada na altura do número 858 foi substituído por um ponto provisório localizado poucos metros à frente.

Novas construções

Além das reformas pluviais, outros empreendimentos estão em andamento simultaneamente no bairro, sendo uma delas na própria Avenida Maria Coelho. No caso, a construção de dois edifícios residenciais da construtora Vinx, que também é citada por moradores como um dos possíveis motivos para as reformas nas tubulações.

O empreendimento vem sendo construído em um ponto de grande fluxo da via, em frente ao Centro Empresarial @Daniel Santana/ Agência Mural

Vale destacar que, nas proximidades da avenida, além desses dois prédios, outras quatros torres estão em construção, sendo que outras ainda estão previstas para os próximos meses. Situação essa que gerou dúvidas por parte da população se as reformas na Maria Coelho não se tratam de uma expansão no saneamento devido ao aumento de residências.

“Eu acredito que essas obras também estão acontecendo por conta dos prédios que estão sendo construídos na avenida. Assim que começou a construção dos prédios, tiveram início as reformas na via”, cita Maria.

Como o fim do projeto está previsto para semanas antes do primeiro turno das eleições municipais, alguns moradores questionam se o atraso também não está relacionado a interesses políticos, como afirma a estudante.

“Existem os interesses políticos e até a questão dos prédios. Para reduzir os alagamentos podem até ser, mas, eu não confio. Eles (a prefeitura) sempre prometem e no final você não vê nada. Até fazem, mas você não vê melhora em nada.”

O que dizem os órgãos e empresas

Um dos “shafts” localizados na avenida. Os “shafts” são poços utilizados para as equipes de trabalho e o maquinário terem acesso ao subsolo @Daniel Santana/ Agência Mural

De acordo com a Siurb, o intuito das reformas são as requalificações de mais de 400 metros do sistema de drenagem e tubulações ao longo da Avenida Maria Coelho de Aguiar, principal via de saída e entrada no bairro.

A Siurb, ainda em nota, citou que os valores iniciais, de R$ 78 milhões, continuam os mesmos, independentemente do atraso na entrega final. Sobre a finalidade da reforma, que vem sendo questionada por moradores, o órgão afirma que já foram escavados mais de 780 metros de novas galerias com o intuito de aumentar a capacidade de vazão do Córrego São Luís, para melhorar o sistema de drenagem do bairro.

A Vinx, construtora responsável pelas novas torres na Avenida, cita que a construção do empreendimento “não está gerando impacto ao trânsito local”. A empresa afirma ter poucas entradas e saídas de caminhões e só trabalha “do portão para dentro” para não prejudicar o trânsito na região.

Já a CET afirma que durante a expansão das obras, interdita parcialmente a Avenida para a realização do projeto, com a redução de uma faixa de rolamento na via, canalizando o fluxo para as faixas laterais do trecho em obras. A Companhia ainda destaca que foram colocadas faixas, bem como painéis de mensagens variáveis, os “PMV”, com informações sobre os desvios no local.

Vale destacar que o único PMV instalado pela CET na saída da ponte João Dias, não está funcionando.

Agência Mural

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