Reincidente em privilégios.

Mais uma vez um familiar do governador Cláudio Castro furou a fila do sistema de saúde pública e passou para trás quem aguardava procedimento cirúrgico na rede estadual.

Com recursos do estado do Rio e sem passar pela lista de espera do sistema de saúde pública, Clerton de Castro e Silva, 74 anos, pai do governador Cláudio Castro, passou por um implante de marca-passo.

Ao custo de R$ 50 mil, sendo  R$ 32.385,00 (Trinta e dois mil e trezentos e oitenta e cinco reais) para o governo do estado e o restante para o governo federal através do Fundo de Recursos do SUS, o aparelho foi implantado no dia 17 de agosto de 2023, no Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), unidade da Universidade do Estado do Rio (UERJ) vinculada a Secretaria de Ciência e Tecnologia. De acordo com o registro de comunicação de cirurgia cardíaca do HUPE ao qual a reportagem teve acesso, Clerton Castro foi internado no próprio dia 17 de agosto, o mesmo da intervenção. O tradicional hospital não realiza procedimentos de emergência. Apenas em pacientes já internados e em tratamento.

A REGRA É CLARA:

Operações de maior complexidade são realizadas através do Sistema Estadual de Regulação (SER), e a regulação é através da Secretaria de Estado da Saúde (SES-RJ). No entanto, o SER só faz a regulação de cirurgias de emergência para pacientes já internados. E outro ponto é incompatível com o caso: pacientes com necessidade de cirurgia de emergência só podem ser regulados para hospitais que possuam emergência, o que não é o caso do Hospital Pedro Ernesto.

A reportagem enviou questionamento ao governador sobre o episódio, indagando se as longas filas que o cidadão do estado enfrenta para cirurgia do tipo foram respeitadas, pedindo confirmação para datas e registros do tratamento, já que os documentos apontam internação no mesmo dia da cirurgia, o que não é permitido no HUPE. No questionamento, lembramos ainda que o primeiro registro público do procedimento encontrado pela reportagem é de um mês antes, 13/7, no processo burocrático para compra do equipamento utilizado. Perguntamos se existia registro anterior. A assessoria de imprensa do governo do estado informou que a UERJ iria responder. A universidade, que abriga o HUPE, respondeu que “atendendo à sua demanda, informamos que o sr. Clerton de Castro e Silva tinha cadastro e já era acompanhado pelo Hospital. Seu tratamento foi realizado dentro da necessidade e urgência necessárias”. Não respondeu sobre a internação ter sido no mesmo dia e sobre a fila de espera ter sido pulada.

O equipamento (Cardioversor Desfibrilador Implantável ) foi entregue no dia 16 de agosto, véspera da internação e cirurgia, como está no “vale de material” da fornecedora.

A reportagem enviou questionamento ao Ministério da Saúde sobre o tempo da fila de espera de pacientes do SUS para cirurgia de implantação de marca-passo. O ministério não respondeu. De acordo com diversas fontes ouvidas ligadas a hospitais públicos e cardiologistas, hoje tal fila está em cerca de um ano de espera.

FILA PIOROU NO GOVERNO BOLSONARO COM CORTE DE VERBAS PARA MATERIAIS DE CIRURGIAS CARDÍACAS

No governo Bolsonaro, a fila piorou e causou mais danos, como consequência de uma portaria editada pelo Ministério da Saúde em dezembro de 2021, que cortou verbas orçamentárias em até 50% para materiais e próteses utilizados em procedimentos cardíacos. Pacientes com necessidade de implantação de marca-passo foram atingidos diretamente. Boa parte dos pacientes passou a judicializar o atendimento para garantir maior rapidez.

Um conjunto completo do equipamento fica ao custo de R$ 50 mil. Como o governo federal passou a cobrir apenas R$ 18 mil depois do decreto, os governos estaduais ficaram com ônus de R$ 32 mil, como foi no caso do pai de Cláudio Castro.

SOGRA, PAI…O GOVERNADOR E O HISTÓRICO DE FURA-FILA

Em fevereiro de 2019, ainda como vice-governador de Wilson Witzel, Cláudio Castro também usou a máquina estadual para benefício dos seus e não respeitou a fila de espera dos pacientes da saúde pública. Maria das Graças Costa da Silva, sogra de Cláudio Castro, foi operada no HUPE, em emergência ortopédica, após tomar um tombo. O episódio foi revelado em reportagem do RJTV.

Em janeiro de 2019, o ainda governador Wilson Witzel mobilizou uma equipe do HUPE para fazer um check-up.

Bolsonarista de primeira hora e fiel ao líder, Cláudio Castro é investigado pela polícia federal por uma série de denúncias de desvio de verbas e recebimento de propina.

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Sportlight - Cláudio Castro furou a fila da saúde para o pai receber marca-passo em hospital estadual