A ausência de sinalização adequada para pedestres no cruzamento na rua Augusto Carlos Bauman com a rua Sabbado D’ Ângelo, nas proximidades do Viaduto Itaquera-Guaianases, em Itaquera, zona leste de São Paulo, tem colocado em risco a vida dos moradores da região.

A situação ganhou destaque após o atropelamento fatal de uma moradora do prédio Bauman II em julho do ano passado. Ela foi atingida por um ônibus na faixa de pedestres.

A Mural teve acesso a um levantamento da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), obtido via Lei de Acesso à Informação, que mostra que ao menos cinco atropelamentos foram registrados entre 2021 e 2025 nas imediações do cruzamento entre as ruas Augusto Carlos Bauman e Sabbado D’Ângelo, próximo ao Viaduto Itaquera-Guaianases, na zona leste de São Paulo.

Crescimento de prédios residenciais aumentou a circulação no entorno, mas infraestrutura viária não acompanhou @Léu Britto/Agência Mural

Atualmente, apenas o semáforo entre a delegacia e o posto de combustíveis fazem os carros pararem totalmente. Nos demais sentidos, os sinais funcionam de forma sincronizada, abrindo para alguns veículos enquanto fecham para outros, o que obriga os pedestres a se arriscarem no meio do tráfego.

Isabele Faria, 24, mora no condomínio Carlos Bauman II e precisa passar por esse cruzamento todos os dias para levar o filho de sete anos à escola. “É sempre um desafio. Não tem sinalização para o pedestre, só para os carros. A gente depende da boa vontade dos motoristas para atravessar, e isso é muito perigoso, principalmente na hora do pico, quando o movimento é maior e os veículos passam rápido”, conta.

Isabele atravessa o cruzamento todos os dias com os filhos e relata medo constante pela falta de sinalização @Léu Britto/Agência Mural

Em frente ao cruzamento, a comerciante Eunice Quitéria, 47, administra uma doceria, a Arte Com Guloseimas, acompanha o risco constante para quem circula a pé. “Desde que abrimos a loja, nunca houve sinalização para pedestres, só para veículos. Quem precisa atravessar tem que olhar para todos os lados sem qualquer proteção. Já vimos pessoas serem quase atropeladas. Muitos evitam passar por aqui e acabam deixando de frequentar o comércio local”, relata.

Moradora do bairro há mais de 20 anos, ela observa que o problema se agravou com o adensamento populacional. “Com certeza ficou ainda mais perigoso. Agora tem muito mais gente circulando, passeando com pets, indo ao terminal de ônibus, mas atravessar continua sendo um risco.”

Eunice, comerciante da região, diz que já presenciou diversos acidentes no local @Léu Britto/Agência Mural

Nos últimos dois anos, o lançamento de três novos prédios residenciais ao redor do cruzamento aumentou o fluxo de pessoas e veículos, mas nenhuma ação de infraestrutura urbana foi feita para atender à demanda crescente.

Segundo a CET, os novos prédios residenciais construídos no entorno foram aprovados como EHIS (Habitação de Interesse Social), o que dispensa os empreendimentos da apresentação de estudos de impacto viário — exigência aplicada apenas a polos geradores de tráfego, conforme a legislação municipal.

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Além disso, o cruzamento fica próximo à estação de trem Dom Bosco, ao terminal de ônibus de Itaquera e em frente a uma delegacia. Para Isabele, a situação se torna ainda mais arriscada porque, mesmo grávida, enfrentou dificuldades para atravessar. “Meu noivo tinha que pedir para os carros pararem para eu conseguir passar. Tem muita criança por perto, é um perigo constante”, relata.

Outra moradora, a técnica de enfermagem Elide Lira, 55, evita passar pelo local sempre que pode. “Prefiro fazer um caminho maior para não ter que atravessar ali. O cruzamento é muito confuso, com carros vindo de várias direções ao mesmo tempo, temos quatro vias para prestar atenção e não tem nenhuma proteção para os pedestres”, diz.

Falta de sinalização e excesso de veículos tornam a travessia arriscada para pedestres @Léu Britto/Agência Mural

Além da falta de semáforos e lombadas, moradores reclamam da ausência de uma área para carga e descarga, que dificulta o trabalho dos comerciantes locais.

“Há uma faixa de pedestres pintada no chão, mas sem semáforo específico, os motoristas não respeitam. Na frente da loja, há placa de proibido estacionar, e já fui multada enquanto fazia descarga, o que deveria ser um direito básico para quem trabalha aqui”, critica Eunice Quitéria.

A insegurança também se estende à rotatória próxima, que representa risco principalmente para crianças, idosos e pessoas menos atentas, que conta apenas com uma faixa de pedestre, sem sinalização semafórica.

O condomínio solicitou à prefeitura a instalação de uma lombada ou faixa elevada na descida do viaduto para reduzir a velocidade dos motoristas. A resposta oficial foi que não há registros suficientes de acidentes ou fluxo para justificar a obra.

A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) informou, em nota, que já elaborou um projeto para implantar semáforos para pedestres no cruzamento, mas que a execução ainda depende de agendamento.

Apesar da movimentação intensa de carros e pedestres, cruzamento ainda não recebeu intervenções da CET @Léu Britto/Agência Mural

A Companhia afirma que o local possui faixas de pedestres e semáforos para veículos, mas reconhece a necessidade de melhorias para proteger quem caminha pela região.

Segundo às informações obtidas via LAI, a rua Augusto Carlos Bauman teve três ocorrências nos últimos anos: dois atropelamentos por moto, com vítimas (sem informação sobre a gravidade), registrados em setembro de 2021 e janeiro de 2024; e um atropelamento fatal por ônibus, em julho de 2024.

Já na Rua Sabbado D’Ângelo, dois pedestres foram atropelados em 2023, um por ônibus e outro por carro.

A CET afirma que, ao longo dos últimos anos, recebeu diversas solicitações formais de moradores e entidades locais, pedindo melhorias na sinalização, como a instalação de semáforo com botoeira para pedestres, revisão do tempo de travessia e reavaliação das condições do cruzamento. Segundo o órgão, há um projeto de semáforo exclusivo para pedestres pronto, mas sem previsão de implantação.

Procurada, a CET não respondeu até a última atualização desta reportagem sobre o prazo para a implantação do novo semáforo nem sobre a adoção de medidas emergenciais no local.

Enquanto as melhorias não são implementadas, moradores vivem com medo constante. “Tenho receio porque não consigo ver de onde vêm os veículos, especialmente as motos, que surgem rápido e sem aviso. Já quase fui atropelada”, conta Isabele.

Agência Mural

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