Moradores do distrito do Grajaú, na zona sul de São Paulo, têm enfrentado congestionamentosde até 30 minutos para atravessar um único trecho da Avenida Dona Belmira Marin. O problema se concentra na região da Bola Branca, área conhecida tanto pelo campinho de futebol quanto pelos recorrentes alagamentos.
O transtorno no tráfego está relacionado às obras de construção do Parque Linear Nova Grajaú II, iniciadas em setembro de 2023. Além da implantação de uma área verde, o projeto promete melhorar o sistema de drenagem, reduzir os alagamentos e contribuir para a mobilidade urbana.
No entanto, os benefícios ainda parecem distantes da realidade dos moradores. Buracos no asfalto, interdições parciais e máquinas pesadas dificultam a passagem dos veículos.
Diversos equipamentos de reforma na via dificultam a passagem de veículos @Isabela Alves/Agência Mural
O horário mais crítico ocorre a partir das 22h, quando os ônibus da Viação Grajaú enfrentam longas filas para acessar a garagem da empresa, localizada próxima ao canteiro de obras. A SPTrans chegou a realocar um ponto de ônibus na tentativa de aliviar o tráfego.
“Volto da faculdade às 21h e fico muito tempo esperando o ônibus conseguir passar. Isso me cansa muito. Ouvi os cobradores comentando que os manobristas entraram em greve por baixos salários e tem poucos motoristas para guardar os ônibus à noite”, relata Cristian Nunes, 24, artista e estudante de pedagogia.
Segundo nota da Secretaria Executiva do Programa Mananciais, o andamento da obra foi prejudicado por diversas interferências técnicas. “Apesar dos esforços, foram identificadas no subsolo tubulações ocultas, estruturas de concreto e vazamentos de esgoto, que não estavam previstos no planejamento inicial”, afirma o órgão.
A entrega da obra, inicialmente prevista para outubro de 2024, foi adiada para dezembro de 2025. Até o momento, o investimento soma R$ 21 milhões, de acordo com dados do site da Prefeitura de São Paulo.
Comunidade removida e incertezas sobre o futuro
Outro ponto crítico relacionado ao projeto é a remoção de cerca de 2.500 famílias da comunidade do Sucupira, onde o parque está sendo construído. A retirada das moradias começou em março de 2025 e muitos dos moradores relatam que ainda não receberam auxílio-moradia ou informações claras sobre onde irão viver.
Wellington Cavalcanti, 33, mora na comunidade desde a infância. Hoje, caminha pelas ruas de barro relembrando o que foi o lugar onde cresceu.
‘Aqui antigamente era um bar, rodeado de casas. A polícia entrou e derrubou tudo’
Wellington Cavalcanti, morador do Sucupira, no Grajaú
Segundo ele, foi elaborado um mapa indicando para onde os moradores seriam realocados, mas nenhuma orientação concreta foi dada. Por ter crescido na região, Wellington lembra das enchentes frequentes e da proximidade da água do córrego com sua casa.
“É área de risco, de córrego, mas aqui não enchia. A água vinha alta, mas dentro das nossas casas ela nunca entrou. Já teve acidente de gente cair dentro da água, mas nunca morreu ninguém”, afirma. “Durante as obras, acharam quatro bocas de esgoto aqui dentro”.
Cíntia Oliveira é cadeirante e agora vive em área de mata após a remoção da sua casa @Isabela Alves/Agência Mural
A região é cortada por três córregos: um ao lado do campo da Bola Branca, outro na entrada da antiga comunidade, e mais um na área de moradia. No início da ocupação do Grajaú, parte do terreno era uma extensão da Represa Billings.
A situação é ainda mais crítica para pessoas com deficiência. Cíntia Oliveira, 51, é cadeirante e construiu um barraco improvisado no meio da mata, após a remoção da sua casa. Para chegar à nova moradia, precisa atravessar um córrego e chega a ficar isolada muitos dias pela dificuldade de locomoção.
Córrego que Cintia atravessa @Isabela Alves/Agência Mural
“Antes eu tinha acesso à avenida e podia ir e vir. Agora perdi todos os meus documentos. Preciso de ajuda”, desabafa.
Moradora do local há 15 anos, Cíntia relata que com a desapropriação, deixou de receber visitas regulares do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e de agentes de saúde. “Preciso ir ao médico, mas como vou sem meus documentos?”, questiona.
Questionada pela Agência Mural, a Secretaria Executiva do Programa Mananciais afirmou, em nota, que “as ações de reassentamento seguem normas legais, com mediação social, respeitando os direitos das famílias e oferecendo alternativas habitacionais adequadas”.
O projeto do parque também prevê a instalação de novas galerias e sistemas de canalização, com o objetivo de ampliar a capacidade da bacia hidrográfica e reduzir os impactos das chuvas na região.
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