Em 2025, a cidade de Pirapora do Bom Jesus, conhecida pelo turismo religioso e belezas naturais, enfrenta um dilema: a possível instalação de um aterro sanitário de grandes proporções.
O município da Grande São Paulo, com cerca de 20 mil habitantes, recebeu a proposta de instalação do reservatório destinado ao descarte de lixo, e o tema tem causado protestos de moradores.
A empresa Ecoparque Pirapora Ambiental S.A., ligada ao Grupo Queiróz Galvão, planeja construir um aterro com capacidade para receber até 7.000 toneladas diárias de resíduos sólidos urbanos, totalizando cerca de 93 milhões de toneladas ao longo de 37 anos.
Para se ter ideia do volume, o maior aterro da Grande São Paulo, em Caieiras, coleta 10 mil, e o maior da capital, em São Mateus, 7 mil.
Moradores em mobilização contra o lixão em Pirapora do Bom Jesus @João Huber/Agência Mural
Desde que a população teve ciência da implementação, uma mobilização tomou forma com questionamentos sobre os possíveis impactos de um lixão em municípios do porte de Pirapora do Bom Jesus, a segunda do Brasil em romarias, atrás apenas de Aparecida do Norte .
“O trânsito das carretas, o chorume derramado e o mau cheiro nas estradas e ruas, impossibilitaria os fiéis de virem pra cá”, afirma Osvaldo Tadeu, 66, morador de um dos bairros mais afetados, o Colinas do Shidharta.
“Soubemos por acaso. Quando uma vizinha nossa perguntou ao prefeito [Gregório Maglio (MDB)] sobre isso. Ele disse que era fake e várias pessoas ligadas à prefeitura disseram o mesmo. Temos o projeto de implantação em mãos”, diz Cida Cunha, 67, moradora de Pirapora do Bom Jesus.
Na manifestação a população protestou contra o aterro na cidade, que terá impacto na economia turística @Caio Carvalho/Divulgação
Os questionamentos sobre a chegada do aterro começaram no boca-a-boca, mas motivou a criação de grupos de WhatsApp e, mais recentemente, até o aparecimento de páginas, como o Pirapora Notícias, Pirapora Cidade da Fé e Fala Pirapora.
Também foram criados abaixo assinados. Um deles conta com 1.708 assinaturas, quantidade essa correspondente a 14% dos eleitores.
Segundo um dos entrevistados, um dos receios de um aterro é o impacto direto no ecossistema natural do município. O temor é que ele seja instalado numa fazenda com várias nascentes, fauna e flora importantes e próximo de moradias.
Projeções indicam que o reservatório estará a menos de 900 metros do bairro mais próximo (Colina do Sidharta) e a menos de 2km do Centro Histórico.
Na câmara municipal, os manifestantes exigem o veto Projeto de Lei do aterro @Caio Carvalho/Divulgação
Após a indignação entre os munícipes, a Câmara Municipal compartilhou no Facebook a ida de um grupo de vereadores até a sede da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) em São Paulo em busca de informações sobre o novo aterro sanitário.
Também chegou a ser aprovado um projeto de lei, que previa a “Proibição de instalação de aterro sanitário e empreendimentos potencialmente causadores de significativa degradação ambiental em áreas de expansão urbana”, com votação unânime por parte dos vereadores.
No entanto, o texto foi vetado pelo prefeito Gregório Maglio (MDB) por ser considerado “inconstitucional”.
Uma segunda mobilização foi realizada para avaliar o veto do prefeito. Apesar da presença da população na Câmara de Vereadores, foi julgado procedente devido a má estruturação do projeto de lei.
O grupo de moradores vai realizar no dia 05 de julho de 2025, às 16h, uma caminhada contra a instalação de aterros sanitários em Pirapora do Bom Jesus em frente a Prefeitura Municipal.
Questão ecológica
Os impactos no meio ambiente são problemas vividos há décadas em Pirapora do Bom Jesus. Em especial, a poluição do Rio Tietê, desde os anos 1980, afetou diretamente a economia do município, fundamentado na mineração e, principalmente, no turismo religioso.
Com a poluição do rio, que rasga o município de ponta a ponta incluindo o centro histórico, o número de turistas e romeiros diminuiu significativamente a partir dos anos 2000.
O cheiro forte, a presença constante de lixo oriundo da capital e as espumas formadas pela poluição transformam o rio Tietê em um lixão a céu aberto.
Espumas branca espalhada no Rio Tietê @João Huber/Agência Mural
Por alguns anos, foi o principal tema no noticiário televisivo associado a cidade, com a invasão de espumas em cima de ruas e pontes que impossibilitavam a circulação de carros e pedestres entre os bairros do município.
Com a instalação de uma Pequena Central Hidrelétrica na antiga barragem de Pirapora do Bom Jesus em 2014, houve uma redução significativa da formação de espumas no leito do Rio Tietê.
No entanto, o mau cheiro, corrosão de eletrodomésticos nas casas mais próximas ao rio e a presença de lixo, como garrafas pets, pneus e dejetos orgânicos ainda afetam a cidade.
A chegada de um aterro agravaria mais a situação, segundo moradores. O projeto indica que ele ficaria próximo de algumas áreas do rio. “O rio Tietê que está tão poluído, com espuma e mal cheiro, ficará bem pior”, afirma um morador que pediu para não ser identificado com receio de represália.
“Não podemos negar a necessidade de um aterro sanitário nos dias de hoje, mas nossa cidade não comporta.”
O trajeto dos caminhões será por dentro da cidade, passando por escolas, pronto socorro, Portal dos Romeiros, pontes e ruas estreitas’
Morador de Pirapora do Bom Jesus
Além disso, o município vizinho de Santana de Parnaíba já conta com um aterro sanitário no limite com Pirapora do Bom Jesus.
Às margens do Rio Tietê, no extremo oeste da Grande São Paulo, Pirapora do Bom Jesus tem 20 mil moradores. Temor de impacto de aterro é de afetar meio ambiente @Léu Britto/ Agência Mural
Enquanto o centro de Santana de Parnaíba se encontra a 6km de distância do aterro, o bairro mais populoso da cidade de Pirapora do Bom Jesus, o Parque Paiol, está a menos de 900m do aterro sanitário da cidade vizinha.
Paralelamente à mobilização dos moradores, a Organização Ação Ambiental Ltda, protocolou uma ação civil pública na Justiça de São Paulo, nº1008478-08.2024.8.26.0529 pela concessão de liminar contra a instalação do aterro. O processo corre no foro de Santana de Parnaíba e ainda não consta decisão final sobre o caso.
EcoParque
Em nota, o empreendimento EcoParque Pirapora afirma que “está cumprindo todos os procedimentos legais exigidos nas esferas Municipal, Estadual e Federal, através do rito processual de licenciamento exigido pelos órgãos competentes”.
Perguntado sobre o qual o cronograma previsto para a implantação e início das operações, a EcoParque Pirapora informou que “a empresa aguarda a análise e manifestação da autoridade de licenciamento competente”.
“Somente após o cumprimento do rito legal de licenciamento, a empresa poderá elaborar um cronograma de atividades para implantação e operação, sem o devido licenciamento concluído, seria prematuro falar em prazos de implantação”.
Procurada, a prefeitura de Pirapora do Bom Jesus não retornou à reportagem.
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